Uma das candidatos que fez denúncia de vazamento mostra foto contendo texto da prova de digitação de 2018 (Foto: Marina Pacheco/Arquivo)
A juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna mandou arquivar inquérito policial instaurado contra Aline Borges, 31, que estava na disputa pelo cargo de escrivã da Polícia Civil em 2018. A candidata era investigada por supostamente fraudar o concurso, mas a magistrada entendeu que a participante não teve a intenção de “passar cola” a outros inscritos do certame quando texto digitado por ela durante o teste de datilografia foi vazado em grupo de WhatsApp.
“Pois bem, examinando as peças contidas no presente inquérito, verifico que, de fato, não constam dos autos elementos suficientes que evidenciem a prática delitiva, isso porque as testemunhas apontaram ter havido uma grande desorganização e tumulto por ocasião do momento em que poderiam os candidatos sair com o caderno de provas, restando veemente a ausência de dolo da indiciada na prática do delito, o que descaracteriza o tipo penal”, concluiu a titular da 4ª Vara Criminal de Campo Grande.
May Melke seguiu entendimento do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). Conforme apurado pelo promotor de Justiça Marcus Vinícius Tieppo Rodrigues, houve confusão na hora da impressão e entrega do teste. Aline saiu da sala de prova com o texto que havia digitado em mãos, ou seja, com a folha que deveria ir para correção.
Moradora de Dourados, a moça explicou, em depoimento, que se hospedou na casa de uma amiga em Campo Grande para fazer a prova e que quando voltou à residência, amassou o papel e jogou fora, porque teve desempenho aquém do esperado. Momentos depois, durante conversa em grupo de WhatsApp sobre o dia de teste, a candidata afirmou que havia deixado o local com o texto. Os outros participantes do grupo solicitaram foto, que foi enviada por outra amiga de Aline.
Prints da conversa no grupo e a foto foram distribuídos quase que instantaneamente e a moça passou a ser acusada de fraude. Os exames estavam marcados para os dias 8 e 9 de setembro de 2018. Aline fez o teste no primeiro dia. Para alguns dos candidatos, ela vazou a prova com a intenção de invalidar essa fase do concurso, uma vez estava insatisfeita com a própria performance.
Fato é que outros inscritos foram entrevistados pelo MPMS e confirmaram que houve desorganização por parte dos fiscais da banca organizadora. Para o promotor, portanto, não ficou comprovada que Aline Borges teve a intenção de espalhar o texto para os concorrentes.
Na internet – À época, o Governo de Mato Grosso do Sul e os organizadores do concurso decidiram excluir a candidata da disputa e publicaram nota afirmando que a participante maculou “dolosamente” a transparência do concurso. Segundo o advogado Patrick Hammarstrom, diante da repercussão, a cliente foi vítima de “linchamento virtual”.
“Aline Borges é uma pessoa íntegra, profissional extremamente dedicada, e seu único objetivo foi, de como muitos brasileiros, entrar na Administração Pública pela porta da frente, pelo mérito, como tudo o que conquistou na vida pública e privada”, informou o defensor em nota divulgada nesta quinta-feira (28).
A decisão judicial determinando o arquivamento do inquérito é de junho deste ano, mas a história de Aline voltou à tona depois que, nesta semana, Cleber Nunes Martins, também morador de Dourados, acusou o novo concurso para a Polícia Civil, aberto nesta semana, de ter “cartas marcadas”. O internauta se retratou em vídeo postado nesta quinta-feira (28), dizendo que as afirmações anteriores, feitas em transmissão ao vivo, eram “pura imaginação”.