Mais uma Casa de Reza do povo Guarani-Kaiowá foi queimada em Mato Grosso do Sul. Desta vez, o incêndio destruiu a “Oga Pissy” da rezadeira Dona Floriza de Souza, na Aldeia Jaguapiru, que junto com a Bororó forma a Reserva Indígena de Dourados.
Ao Campo Grande News, ela contou que o incêndio ocorreu no momento em que não tinha ninguém no local. Dona Floriza, 65 anos, e o esposo, Jorge da Silva, 69, estavam na inauguração da base do Samu Indígena na Missão Evangélica Caiuá e o filho dela tinha saído para colher sapé, para consertar a cobertura da Casa de Reza.
“Fomos lá na Missão para fazer reza na abertura. Quando meu filho tava cortando sapé, chamaram ele e falaram que a Casa de Reza estava em chamas. Quando ele chegou o fogo já estava alto. Ele não viu que a gente já tinha saído e ficou gritando, chorando. Chegamos e já estava tudo queimado”, contou a Ñandesy (rezadeira).
A exemplo do que ocorreu em outras Casas de Reza queimadas nos últimos anos em várias áreas indígenas, existe suspeita de ato criminoso.
“Desde que meu filho morreu assassinado, essa Casa de Reza vem sendo ameaçada. Não é de hoje que tem ameaças. Precisamos de câmeras, de tela para fechar o local, mas ninguém liga para a gente. Tem que construir tudo de novo, não vai ser fácil. O mais grave de tudo é que três xirus foram queimados. Isso tem que ser muito bem guardado pelo ñanderu e ñandesy, para prevenir doenças, tempestades”, disse Floriza.
O “xiru” é um objeto feito de madeira que faz parte das relíquias sagradas das Casas de Reza e repassado por gerações nas famílias indígenas. É um elemento cultural de grande importância entre os Guarani-Kaiowá.
Agora, sem a Casa de Reza da Dona Floriza, só restou a “Oga Pissy” do rezador Getúlio, também na Aldeia Jaguapiru. “Agora tem que cuidar muito lá também, porque estamos em perigo. Nós rezadores não somos mais respeitados, sofremos preconceito da igreja pentecostal, falam que estamos fazendo macumba”, reclamou a rezadeira.
O filho de Dona Floriza afirmou que no ano passado, após o assassinato de seu irmão, ouviu ameaça de familiares de um dos autores do crime de que a Casa de Reza seria queimada. Ele disse que foi à Polícia Civil, mas não conseguiu registrar boletim de ocorrência da ameaça. “Falaram que não era crime ameaçar queimar Casa de Reza e pediram para ficarmos tranquilos que a Casa não seria queimada. Também fomos no Ministério Público Federal”, disse ele.
O rapaz conta que após ele denunciar as ameaças, houve reforço no policiamento perto da Casa de Reza, mas, com o tempo, o assunto caiu no esquecimento. No sábado, após o incêndio, peritos da Polícia Federal foram ao local para fazer levantamentos. O caso está sendo investigado pela PF.