Coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres Mariana Gomes da Rocha fala sobre escalada do crime pelo qual Diogo Castilho foi preso
Os números comprovam essa realidade desde o ano passado: a violência contra a mulher aumentou durante a pandemia de covid-19. Com as medidas de distanciamento, muitas mulheres permaneceram mais tempo dentro de casa, obrigadas a conviver mais tempo com seus agressores.
Essa é a avaliação da coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres de Dourados, Mariana Gomes da Rocha.
Em entrevista ao Dourados Informa, ela fala sobre a escalada da violência doméstica na cidade e comenta o caso que levou o vereador Diogo Castilho (DEM) para a prisão no sábado passado, acusado de agredir e ameaçar a então noiva de morte. Ontem o Tribunal de Justiça lhe concedeu liberdade provisória.
“A prisão em flagrante do vereador Dr. Diogo Castilho é a demonstração de que a violência contra mulher não tem classe, nível de escolaridade, cor ou raça”, afirma Mariana.
Leia a entrevista na íntegra:
Qual a situação da violência contra a mulher no município de Dourados, a Coordenadoria tem números atualizados apontando se teve aumento nos últimos anos?
A situação da violência em Dourados precisa, cada vez mais, de engajamento cívico e compromisso institucional, como tem sido as tratativas engendradas pela coordenadoria da mulher desde o início da atual gestão. Nosso município é macrorregião, portanto também serve de amparo para distritos e outros municípios menores.
Os números tem aumentado, principalmente em razão da pandemia, que obrigou muitas mulheres a permanecerem dentro de suas casas em razão das medidas de distanciamento, no entanto, foram obrigadas a conviver mais tempo com seus agressores. Infelizmente a maioria das vítimas é agredida por pessoas próximas, como maridos e namorados.
Além da situação de confinamento, a política pública de enfrentamento à violência contra mulher tem se fortalecido muito nos últimos 15 anos, principalmente pela força da Lei Maria da Penha, sendo um marco para a proteção das mulheres em todo o país.
Mato Grosso do Sul teve 17.286 boletins de ocorrência por violência doméstica, 40 feminicídios consumados e 66 feminicídios tentados. Destes 12 foram cometidos na capital e 28 no interior. 78,5% foram cometidos em área urbana. 10,7% foram cometidos em área rural.
No fim de semana, um vereador de Dourados foi preso em flagrante por violência doméstica e por ter ameaçado a noiva de morte. Na sua opinião, ainda falta a mulher denunciar mais essas agressões? Por que nem todas denunciam?
É triste ver que logo após a campanha do Agosto Lilás tenhamos assistido o nome de nossa cidade em todos os jornais de circulação estadual e nacional. No entanto, a prisão em flagrante do vereador Dr. Diogo Castilho é a demonstração de que a violência contra mulher não tem classe, nível de escolaridade, cor ou raça. Acontece em todas as camadas sociais, mas na medida em que as políticas públicas de enfrentamento à violência ganham força, mais mulheres conquistarão a coragem necessária para quebrar o ciclo da violência.
Qual sua opinião sobre esse tipo de violência doméstica, causada principalmente por ciúme por parte do homem? É reflexo do sentimento de posse e da cultura machista?
É uma doença social, como bem pontuado na pergunta, a violência doméstica, na grande maioria dos casos, é motivada pelo sentimento tóxico de posse do agressor sobre a vítima, isso porque a cultura machista ensina a “objetificação” da mulher, deixando de percebê-la como um sujeito de Direitos. Precisamos criar meninos para que respeitem as mulheres e para que tenham relacionamentos saudáveis, onde prevalece a individualidade de cada cônjuge.
A senhora concorda que em briga de marido e mulher, “meter a colher” é questão muitas vezes de vida ou morte para as vítimas?
Com toda certeza, “meter a colher” salva mulheres. E toda a sociedade precisa ecoar esta visão, tendo em vista que a defesa da vida das mulheres é um objetivo primordial para o avanço civilizatório da nossa nação, sendo assim, homens e mulheres são responsáveis por “meter a colher” e salvar as vítimas de violência doméstica.
Na sua opinião, um agressor de mulher tem condições de ocupar cargo tão importante e de representação do povo como o de vereador?”
A sociedade, indubitavelmente, é um reflexo de seus representantes, portanto, alguém que possui um cargo eletivo se torna “exemplo”. Neste sentido não é aceitável pensar que tenhamos um agressor de mulheres como um representante do povo, pois aceitar este tipo de exemplo é contrariar toda a política de enfrentamento à violência contra mulher, que se ancora principalmente nas atitudes, exemplos e medidas efetivas tomadas para defender a vida das mulheres.