Bandido com extensa ficha criminal, Arlan Fabio Martinez dos Santos, 33, foi condenado a 10 anos, 4 meses e 15 dias de reclusão em regime fechado pelo assassinato do empresário Alécio Favaro Júnior, de 34 anos, e por tentar matar a esposa de Alécio, no dia 25 de maio de 2019 em Itaquiraí.
O assassinato de Alécio está ligado à guerra travada por dois grupos rivais de Itaquiraí, um dedicado ao tráfico de drogas e outro ao contrabando de cigarro (leia abaixo).
Por medida de segurança, o julgamento ocorreu na noite desta terça-feira (24) em Dourados, a 180 km de Itaquiraí. O Campo Grande News apurou que o júri chegou a ser agendado para o ano passado, mas foi adiado e depois transferido de cidade após moradores que integram o corpo de jurados serem ameaçados de morte.
Os irmãos Alessandro Soares de Barros e Alexandro Soares de Barros, também de Itaquiraí, foram denunciados pelo Ministério Público como mandantes do assassinato de Alécio Favaro Júnior e da mulher dele. Entretanto, eles foram declarados impronunciados (excluídos do julgamento), por falta de provas.
Arlan Fabio Martinez dos Santos está preso desde 2020. Ele responde a outros processos por homicídio, assalto e posse de arma em Itaquiraí; por homicídio em Anastácio; e por assalto e formação de quadrilha em Campo Grande.
O preso é considerado extremamente perigoso. A reportagem apurou que durante o julgamento de ontem em Dourados, Arlan tentou intimidar uma jurada, fazendo sinal com o dedo que ela seria degolada.
A mulher falou em voz alta que estava sendo ameaçada, mas a cena não foi gravada. Os demais jurados não estavam olhando para o réu no momento da suposta ameaça. Na fase de inquérito, Arlan negou o crime e colocou a culpa em outras duas pessoas, já mortas.
Segundo a investigação, para executar Alécio, Arlan recebeu ajuda do adolescente Matheus José Fogaça Ribeiro, assassinado no interior do Paraná um mês depois da morte do empresário.
Existem suspeitas de que o próprio Arlan dos Santos tenha matado Matheus, como “queima de arquivo”. Aos 16 anos, Matheus era acusado de quatro homicídios.
Além da sentença em regime fechado, o juiz Ricardo da Mata Reis, presidente do Tribunal do Júri, condenou o réu a pagar R$ 20 mil de indenização pelo assassinato de Alécio e pela tentativa de homicídio contra a mulher dele e R$ 2 mil por corrupção do menor (por envolver o adolescente Matheus no crime), a serem pagos aos herdeiros.
“Levando em conta o quantitativo da pena privativa de liberdade aplicada, estabeleço o regime fechado para início de cumprimento, observado tratar-se de reincidente em crime praticado com violência ou grave ameaça”, afirmou o juiz. A acusação foi feita pelo promotor de Justiça Paulo Henrique Mendonça de Freitas, de Nova Andradina.
Arlan dos Santos responde a outro processo por assassinato ligado à briga dos grupos de Itaquiraí. Ele e o pistoleiro Marcio Soares são apontados como autores da execução do cigarreiro Gabriel Fogaça de Oliveira, ocorrida em 14 de novembro de 2019, em Itaquiraí. Ele está recolhido no presídio de Dois Irmãos do Buriti.
Mortes em série
Apesar do envolvimento dos grupos com o crime organizado, a briga começou por causa de discussão política na campanha eleitoral de 2018. Durante o bate-boca, Alécio, que tinha um mercadinho em Itaquiraí, levou um tapa no rosto, desferido por Marcos Vinícius Müller, o “Boca”, amigo do adolescente Matheus e primo de Arlan.
O empresário não reagiu, mas mandou matar “Boca” meses depois. O crime ocorreu na madrugada de 23 de dezembro de 2019, no Brutus Bar, casa noturna mais frequentada de Itaquiraí.
Marcos Vinícius foi morto pelo pistoleiro Francisco Antônio de Lima, 55, o “Chico Bala”. Ele bebia no local quando se deparou com “Boca”, que estava sempre em Itaquiraí, mas morava em Querência do Norte (PR).
Chico Bala chamou Marcos para o lado de fora do bar para conversar. “Não se bate na cara de homem”, teria dito o veterano pistoleiro antes de sacar a arma e matar “Boca” a tiros.
Quando se aproximava para conferir se o homem estava morto, Chico Bala foi alvejado por vários tiros disparados por João Vitor Gomes, 22, o “Catarino”, amigo de “Boca” e também morador no Paraná.
Depois de executar Chico Bala, Catarino voltou para Querência do Norte, onde ficou escondido até 17 de abril de 2019. Descoberto pela polícia paranaense, ele reagiu e foi morto a tiros.
Amigos de “Boca”, os irmãos Alessandro e Alexandro Soares de Barros teriam contratado Arlan e Matheus para matarem o comerciante Alécio. Os irmãos negaram participação no crime.
Para vingar a morte do amigo, três dias após o assassinato de Alécio, outro morador de Itaquiraí, Alyson de Melo Prudente, foi até a casa de Matheus no Jardim Primavera. Ele teria entrado na casa com a arma na mão e apontou o revólver para um irmão do adolescente.
Escondido atrás da porta, Matheus disparou um tiro na barriga de Alyson, que conseguiu deixar o local de carro com um amigo que o acompanhava. Alyson morreu em seguida e o amigo abandonou o corpo na estrada do Assentamento Lua Branca.
Vilmar Fogaça da Silva, 43, pai de Matheus, foi acusado de ajudar o filho a matar Alyson. Ele foi executado a tiros de pistola 9 milímetros dentro de seu carro, no centro de Itaquiraí, no dia 13 de junho de 2019. Oito dias depois, Matheus foi executado no Paraná.
Segundo as investigações, Gabriel Fogaça de Oliveira, morto por Arlan em 14 de novembro de 2019, teria mandado matar Vilmar e Matheus, para vingar a morte de Alyson. Lucas Alexandre Fogaça de Oliveira, 23, sobrinho de Vilmar e primo do adolescente Matheus, foi outro morto na guerra.
Ele foi alvejado a tiros de pistola na BR-163 quando seguia de carro com a mulher e uma criança de dois anos, no dia 4 de julho de 2019. Era suspeito de participar de assassinatos na companhia de Matheus. Arlan disse à polícia quando foi preso em 2020 que Matheus e Lucas tinham matado o comerciante Alécio.
Crédito: Campo Grande News