Luccas Abagge, 32, condenado a penas somadas de 80 anos de prisão por crimes no Paraná e preso no final de semana na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, foi levado no início da tarde para o Estabelecimento Penal Ricardo Brandão, em Ponta Porã.
A transferência para o presídio ocorreu sob forte esquema de segurança, feita por policiais civis e guardas civis municipais. Antes, Abagge foi levado para o IML (Instituto Médico Legal), para exames de rotina.
A Justiça de Mato Grosso do Sul decretou a prisão preventiva de Luccas Abagge após ele ser flagrado utilizando CNH (Carteira Nacional de Habilitação) falsa na noite de sábado (18), quando ingressava de Pedro Juan Caballero em Ponta Porã.
Foragido da Justiça paranaense, Lucas é filho de Beatriz Cordeiro Abagge, investigada nos anos 90 pela morte de um menino de seis anos em ritual de magia negra. O crime teve repercussão nacional e ficou conhecido como Caso Evandro.
Luccas utilizava documento falso em nome de Evandro Oliveira Ribeiro, mas foi descoberto durante checagem minuciosa.
Luccas foi levado para a delegacia e durante interrogatório afirmou não ser criminoso e que cruzou a fronteira de Ponta Porã com o Paraguai para buscar a esposa em um shopping. Inclusive, o preso não assinou nenhum documento em nome de Luccas Abagge. A esposa disse que o conhecia como Evandro, sem saber de condutas criminosas.
Logo após ouvi-lo, a Polícia Civil pediu vaga com urgência no presídio, considerando a alta periculosidade e histórico de fugas cinematográficas.
Em janeiro de 2019, Luccas foi condenado a 54 anos por homicídio, pena posteriormente reduzida para 48 anos. Após o crime por disputa por ponto de vendas de drogas em Curitiba, a sua fuga envolveu o roubo de três veículos.
Em julho de 2019, nova condenação: a 32 anos por matar um adolescente em Curitiba. Um segundo adolescente ficou ferido. Em 2016, ele fugiu da Penitenciária Central do Estado, na Região Metropolitana da capital paranaense.
Caso Evandro
Luccas Abagge é filho de Beatriz Cordeiro Abagge, uma das condenadas pela morte do menino Evandro Caetano. Numa série documental, ela relata ter sofrido tortura para confessar o crime e recebeu pedidos de perdão do Estado do Paraná.
Evandro Ramos Caetano, então com 6 anos, desapareceu no dia 6 de abril de 1992. Seu corpo foi encontrado em 11 de abril, em um matagal da cidade litorânea de Guaratuba, no Paraná, sem vários órgãos, com mãos e pés amputados, e vísceras e coração arrancadas.
A Promotoria Pública do Paraná indiciou Beatriz Cordeiro Abagge e sua mãe, Celina Abagge (então primeira dama do município), como mentoras do sequestro e morte de Evandro. A alegação foi de sequestro e utilização da criança em suposto ritual de magia negra para obtenção de benefícios materiais junto a espíritos satânicos.
Em 23 de março de 1998, Beatriz e Celina foram julgadas pela primeira vez, em processo que é o mais longo júri da história da justiça brasileira - 34 dias de julgamento. No veredito foram consideradas inocentes. Em 1999 o júri foi anulado, com novo julgamento realizado 13 anos depois, em 28 de maio de 2011.
Outros acusados de envolvimento no suposto assassinato também foram julgados pelo crime: o pai-de-santo Osvaldo Marcineiro, o pintor Vicente de Paula Ferreira e o artesão Davi dos Santos Soares. Os três foram condenados em 2004. Os outros acusados, Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli dos Santos, foram absolvidos em 2005.
No segundo julgamento Beatriz foi condenada a 21 anos e 4 meses de prisão. Em 17 de abril de 2016, o Tribunal de Justiça do Paraná concedeu perdão de pena para Beatriz Abagge. (Com informações do Campo Grande News).