Clima segue tenso entre policiais do Batalhão de Choque da PM (Polícia Militar) e indígenas que mantém o bloqueio na MS-156, entre Dourados e Itaporã, em protesto contra a falta de água nas aldeias Bororó e Jaguapiru.
Na manhã desta quarta-feira (27/11), o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul enviou tropas do Choque para o local com objetivo de liberar as estradas interditadas desde a última segunda (25/11), e a ação resultou em confronto entre os militares e os moradores.
A reportagem está no local e apurou que, até o momento, há cinco policiais feridos, que já foram socorridos e levados para o hospital de Dourados, além de indígenas que teriam se recusado receber atendimento médico.
Pelo menos duas mulheres indigenas, as duas com 30 anos, deram entrada no HV (Hospital da Vida) com ferimentos de tiros na orelha e no ouvido.
Como saldo desse confronto, dez viaturas das forças de segurança presentes no local – Choque da PM, Força Tática, PMR (Polícia Militar Rodoviária) – foram danificadas com pedradas atiradas pelos indígenas.
Após uma manhã tensa de confronto, as equipes recuaram e se concentraram, neste momento, na rotatória do anel viário, enquanto aguardam um posicionamento da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública).
Além de feridos por balas de borracha, há informações de indígenas que ficaram sufocados durante o confronto devido a bombas de gás. Vídeos mostram que os policiais chegaram atirando na direção das pessoas que bloqueavam a MS-156, entre Dourados e Itaporã.
Os PMs também usaram estradas internadas das aldeias para chegar até o local. Houve resistência e outras imagens mostram dezenas de pessoas correndo no momento em que as equipes começaram a disparar bombas e tiros de munição “não letal”.
“Tem parente nosso ferido ali na rotatória. A gente tentou chegar perto para socorrer, eles [PMs] jogaram gás. Com eles não tem diálogo. Isso tudo aconteceu por culpa do Lindomar [Ferreira da Silva, chefe do Dsei-MS]. Se ele fosse mesmo nosso parente não teria deixado chegar nessa situação. Tentamos diálogo com o Lindomar, mas ele ignorou. Estava em Dourados na sexta-feira, mas não veio na nossa aldeia”, afirmou uma moradora da Aldeia Jaguapiru em áudio enviado a grupos de WhatsApp.
Em nota, a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública, disse que a Polícia Militar informou que a ação do Batalhão de Choque ocorreu após “esgotadas todas as vias de negociação”, e para “garantir os direitos constitucionais”.
“Com apoio do Corpo de Bombeiros Militar e de equipes da Agesul, removeram entulhos e apagaram focos de incêndios nas pistas. As forças de segurança manterão efetivo para garantir paz em todo território sul-mato-grossense. O governo estadual reforça seu compromisso com a transparência, refutando iniciativas político-eleitoreiras, e age em prol de um caminho de justiça e respeito.
Ainda conforme a Sejusp, o governo de MS, por meio da Secretaria Estadual de Cidadania, se manteve “em contínuo diálogo com todos os envolvidos em busca, sempre, de solução pacífica, e lamenta episódios de agressões e enfrentamentos”.
A Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) e o Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) em Mato Grosso do Sul informaram que mantêm contrato para a distribuição de mais de 70 mil litros de água potável por semana via caminhões-pipa e articulam com a Prefeitura de Itaporã o fornecimento de 100 mil litros de água por dia, sendo 50 mil destinados a Jaguapiru e 50 mil a Bororó.
“Está em andamento a perfuração de dois novos poços, um em cada aldeia, em parceria com a prefeitura de Dourados e a Secretaria Estadual de Cidadania, com previsão de conclusão em até 40 dias”, afirma o Ministério da Saúde, em nota.
Os órgãos federais culparam a própria comunidade indígena pela falta de água: “embora as comunidades já contem com 14 sistemas simplificados de abastecimento, esses não atendem plenamente à demanda local devido a altos índices de desperdício e uso inadequado da água tratada”.
*Matéria alterada às 14h05 para acréscismo de informações