Dois moradores de Dourados integravam a organização criminosa que aplicava golpes prometendo rendimentos exorbitantes por meio da plataforma de investimentos intitulada “EBDOX”. O esquema, que movimentou pelo menos R$ 1 bilhão, é chefiado por cidadãos chineses residentes na área central de São Paulo (SP).
Segundo a polícia, os douradenses recebiam mensagens em mandarim (idioma oficial da China) enviadas pelos líderes da quadrilha, faziam a tradução e encaminhavam a grupos de WhatsApp se passando por um suposto economista com doutorado na USP (Universidade de São Paulo).
Acreditando se tratar da orientação de um especialista, dezenas de moradores do Distrito Federal investiram dinheiro na plataforma e ficaram no prejuízo. Um médico residente em Taguatinga (DF), onde a investigação teve início, perdeu pelo menos R$ 220 mil.
“Aqui em Dourados são brasileiros que participavam da fraude. Foram cooptados pelos chineses para fazer o meio de campo entre os líderes e as vítimas em grupos de WhatsApp. A plataforma funcionava como corretora de criptomoedas que prometia lucros muito acima do mercado”, explicou o delegado Thiago Boeing, titular da 17ª DP do Distrito Federal e que coordenou as buscas em Dourados.
Segundo ele, o esquema começou a ser investigado em abril de 2024 após o médico de Taguatinga procurar a polícia para denunciar o golpe. Após investir o dinheiro na plataforma de criptomoeda, a vítima parou de receber os lucros.
Ao questionar os operadores do site, foi informado que uma suposta força-tarefa da Polícia Federal havia confiscado o dinheiro e que, para liberar o investimento, seria preciso pagar um percentual do saldo bloqueado, a título de imposto. Após o pagamento da suposta taxa, a plataforma saiu do ar.
Segundo o delegado, pelo menos 400 vítimas já foram identificadas. São pessoas que acreditaram nas dicas do suposto doutor em economia e investiram dinheiro para obter lucro principalmente em criptomoedas e dólar. A operação recebeu o mesmo nome da plataforma, criada pelo suposto especialista.
“As pessoas faziam depósito e transferência por Pix para várias empresas, mas era apenas a carcaça de um site. O dinheiro não era investido, mas aparecia crescimento virtual dos valores como se as pessoas estivessem obtendo lucro muito grande”, afirmou o delegado Thiago Boeing.
A organização criminosa movimentou pelo menos R$ 1 bilhão. O dinheiro desviado dos investidores era lavado na compra de criptomoedas, de créditos de carbono e com a exportação de alimentos de Boa Vista (RR) para a Venezuela.
A operação
Deflagrada pela 17ª Delegacia de Polícia e pela DRCC (Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos) do Distrito Federal, a operação cumpriu 21 mandados de busca e apreensão na capital paulista, em Dourados, em Guarujá (SP), em Boa Vista (RR), em Curitiba (PR) e em Entre Rios (BA).
Em Dourados foram apreendidos cartões, celulares e um notebook. As buscas tiveram apoio de policiais civis do SIG (Setor de Investigações Gerais). Ainda em São Paulo foram cumpridos três mandados de prisão temporária, expedidos contra os líderes do esquema.
Assim como o médico de Taguatinga, as vítimas entraram em grupos de WhatsApp liderados pelo suposto doutor em economia na USP, que dava dicas de investimento.
Após adquirir a confiança dessas pessoas, o suposto doutor indicava a plataforma de investimentos “EBDOX”. Quando os investidores passaram a solicitar os saques, foram informadas do bloqueio dos valores pela Polícia Federal e que seria necessária uma caução para liberar o dinheiro. Mesmo com o pagamento dessa taxa, os valores não foram liberados e a plataforma saiu do ar.
Os policiais descobriram que os cidadãos chineses residentes na região central de São Paulo cooptaram brasileiros para organizar os grupos de WhatsApp e enganar as vítimas.
“Essas pessoas tinham catálogos para prestarem informações em chinês para os líderes do grupo e eram remuneradas com criptomoedas”, afirma a polícia. Os dispositivos, anotações e documentos apreendidos hoje vão subsidiar o aprofundamento das investigações.