Adair José Belo teve saída temporária autorizada pela Justiça para fazer cirurgia e fugiu um mês antes de acabar “licença”
Apontado como “braço direito” do narcotraficante Jorge Rafaat Toumani (assassinado em 2016), o ex-policial militar Adair José Belo, 52, está foragido do sistema penitenciário de Mato Grosso do Sul. Ele está condenado a 12 anos de reclusão por tráfico e desde 19 de abril cumpria pena em regime semiaberto no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira, em Campo Grande.
Autorizado pela Justiça a ficar 90 dias em casa para fazer uma cirurgia, Adair rompeu a tornozeleira eletrônica no dia 1º de novembro e desde então não foi mais localizado. A fuga foi comunicada ao Poder Judiciário no dia 5 de novembro, em ofício encaminhado pela Unidade Mista de Monitoramento Virtual Estadual.
“Informamos que foram feitas diversas tentativas de contato com o monitorado pelo número informado a esta UMMVE sem sucesso. Oportuno mencionar também que foi realizada fiscalização pelo Grupamento De Ações E Fiscalização Penitenciária, sendo que o equipamento eletrônico não foi recuperado”, afirma o documento.
A saída temporária para tratamento de saúde foi autorizada no dia 9 de setembro pelo juiz Albino Coimbra Neto, da 2ª Vara de Execução Penal de Campo Grande. A defesa dele pediu prazo de 120 dias, mas o juiz concedeu apenas três meses.
Para conseguir a saída temporária, a defesa do traficante alegou que ele sofria de cervicobraquialgia refratária, dor crônica no pescoço que se irradia para o ombro e o braço. O problema teria causado perda de força no braço esquerdo, necessitando de cirurgia na coluna cervical para evitar progressão do déficit neurológico.
“Ao que se constata no evento 138.2, a cirurgia a que o sentenciado precisa ser submetido está agendada para 11.09.2024, às 7h, no Hospital Proncor. No tocante ao período de recuperação, ainda que conste o prazo de 120 dias, reputo suficiente, por ora, a concessão de 90 dias, para fins de fiscalização ao cumprimento da pena, sendo que, em caso de necessidade de maior período, deve ser pleiteado judicialmente, com documentos idôneos e atualizados”, decidiu o magistrado.
Adair José Belo fez cirurgia na data agendada e após alta hospitalar passou a ser monitorado por tornozeleira eletrônica. Ele deveria retornar ao regime semiaberto nesta semana. Agora, é considerado foragido.
Rafaat e Minotauro
Adair José Belo foi preso pela Polícia Federal em 26 de fevereiro de 2019, no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), quando tentava embarcar para Rio Branco (AC). Estava com alta quantia em dinheiro vivo e usava documentos falsos em nome de José Antônio Brito.
As investigações para localizar e prender o ex-PM começaram após a prisão de Sérgio Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”, que promoveu banho de sangue na linha internacional entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã antes de ser capturado em Balneário Camboriú (SC), no dia 5 de fevereiro de 2019.
Materiais apreendidos pela PF indicaram que Adair era um dos apoiadores da organização criminosa chefiada por “Minotauro”. Antes de se associar ao narcotraficante, Adair Belo foi segurança e braço direito do narcotraficante Jorge Rafaat Toumani, executado em junho de 2016 em Pedro Juan Caballero.
Atirou no tio
Após vários anos foragido, Adair José Belo foi descoberto em dezembro de 2017 em Rondônia, depois de atirar na cabeça do próprio tio, durante uma briga. Em represália, o filho da vítima procurou a polícia e contou sobre a verdadeira identidade do homem, que se apresentava como Jorge.
Segundo o denunciante, Adair teria comprado uma fazenda perto de Pimenteiras (RO), de onde comandava o tráfico internacional de drogas. A polícia fez buscar pelo traficante, mas ele conseguiu escapar. O tio sobreviveu.
Natural do Paraná, Adair José Belo foi soldado da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, mas desertou em 1994, após executar um sargento da corporação, a mando de traficantes. Preso e condenado, se tornou informante da polícia sobre o narcotráfico, mas depois de cumprir a pena voltou para o crime.