Seis homens e uma mulher viraram réus pelos assassinatos de dois jovens, na véspera do Natal, em Dourados. José da Silva Câmara, 23, e Caio Henrique de Oliveira, 21, foram vítimas do chamado “tribunal do crime”, julgamento praticado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) para punir inimigos.
Entretanto, os autores da dupla execução teriam agido sem consentimento do comando central da facção. Como estão jurados de morte pelos antigos companheiros, quatro acusados foram levados para o presídio de Naviraí, por medida de segurança.
O juiz Ricardo da Mata Reis, da 3ª Vara Criminal de Dourados, aceitou a denúncia do Ministério Público contra Douglas Alves Cardoso, 23, Leonardo Silva Zengo, 20, Bruno da Silva Gentil, 23, Luiz Fernando Escobar Kunyoshi, 22, o “Japa”, Henrique José Jara do Carmo, 27, a mulher dele, Laura Negrão de Assis, 24, e contra Alexandro Tavares Capilé, 36, o “Piolho”, apontado como mandante dos crimes.
Douglas, Leonardo, Bruno e Luiz Fernando estão na Penitenciária de Segurança Máxima de Naviraí. Henrique está no presídio semiaberto de Dourados por outro crime, já que ele e a mulher (Laura) ganharam liberdade provisória pela ligação nas mortes.
Laura e Alexandro Tavares Capilé estão soltos. Ela teve a prisão revogada com medidas cautelares por não ter participação direta nas execuções. Alexandro se apresentou à Polícia Civil dias após os crimes, negou participação, foi indiciado e responde em liberdade.
Laressa Michele Farias de Matos, 27, mulher de Luiz Fernando, o “Japa”, que chegou a ser presa e autuada em flagrante por participação nas mortes, não foi denunciada pelo MP. No mesmo dia em que aceitou a denúncia, o juiz determinou a soltura dela por ausência de provas.
Os amigos José e Caio Henrique foram sequestrados na noite de 23 de dezembro no residencial Estrela Porã, região oeste de Dourados.
Alexandro, o “Piolho”, teria ordenado o sequestro para que os dois fossem submetidos ao tribunal do crime por serem acusados de invadir a casa do irmão do bandido, no mesmo bairro onde os rapazes moravam.
Na mira de armas, José e Caio Henrique foram levados até a casa de Luiz Fernando na Rua Eulália Pires, no Jardim Clímax, onde foram torturados. Foto deles com as mãos amarradas circulou em grupos de aplicativo de conversa.
Segundo a denúncia do MP, o tribunal do crime foi conduzido à distância por Douglas Alves Cardoso, o “Gordão”. Ele estava em deslocamento de Campo Grande para Dourados e acompanhou o julgamento por vídeo chamada.
Na manhã de sábado, véspera de Natal, os dois amigos foram levados de carro até a matinha na margem da BR-463, na saída para Ponta Porã, e executados a tiros por Leonardo e Bruno. Luiz Fernando ficou no carro, na beira da estrada.
Os corpos foram enterrados em cova rasa e cobertos com galhos e terra. A picareta, a pá e a enxada usadas para abrir a cova foram apreendidas por policiais do SIG (Setor de Investigações Gerais) na casa de Henrique e Laura, na Rua Adroaldo Pizzini, no Jardim São Pedro, onde seis envolvidos estavam escondidos.
Segundo a denúncia do Ministério Público, os acusados cometeram os crimes por motivo torpe, consistente de vingança e punição por parte de Alexandre Tavares Capilé e para cumprir ordem de grupo criminoso por parte de Leonardo, Bruno e Luiz Fernando.
Para o MP, os denunciados executaram os crimes mediante recurso que impossibilitou a defesa das vítimas, pois estavam em superioridade numérica, imobilizaram e amarraram as mãos das vítimas com cordas.
A promotora de Justiça Claudia Loureiro Ocáriz Almirão afirma na denúncia que o grupo se associou de forma criminosa, com vários dias de antecedência, para submeter os rapazes ao tribunal do crime.
Henrique e Laura se tornaram réus por favorecimento pessoal (deram abrigo aos autores das execuções), por ocultação de cadáver, posse ilegal de arma (os dois revólveres usados nos crimes estavam na casa deles) e por organização criminosa. Os demais envolvidos se tornaram réus por esses crimes e também por duplo homicídio triplamente qualificado.
Crédito: Campo Grande News