O juiz Ricardo da Mata Reis, da Vara de Garantias, Tribunal do Júri e Execução Penal, determinou a quebra de sigilo dos celulares dos envolvidos no latrocínio (roubo seguido de morte) contra o padre Alexandro da Silva Lima, de 44 anos, ocorrido no dia 14 do mês passado em Dourados.
Em despacho assinado na semana passada, o magistrado também determinou perícia no aparelho telefônico da vítima, a ser feita pelo Núcleo Regional de Inteligência da Polícia Civil com uso do software “Cellebrite”.
A quebra do sigilo dos dados telefônicos atende ao pedido dos investigadores, para esclarecer o envolvimento dos autores no crime doloso contra a vida, inclusive eventual identificação de outros comparsas. O objetivo também é comprovar que o latrocínio foi premeditado, contrariando alegação do principal autor, Leanderson de Oliveira Junior, 18.
Preso no dia seguinte com o carro da vítima, um Jeep Renegade, e outros pertences roubados da casa do padre, Leanderson alegou possuir envolvimento sexual com Alexandro e que o teria matado a golpes de marreta na cabeça e de faca no pescoço após ser forçado a praticar sexo oral na vítima.
Em entrevista coletiva três dias após o crime, o delegado Lucas Albé Veppo, chefe do SIG (Setor de Investigações Gerais), afirmou não existir, até aquele momento, qualquer indício de que o padre mantinha envolvimento sexual com Leanderson.
No interrogatório gravado em vídeo, o jovem, disse ter conhecido o padre por intermédio de seu ex-cunhado e relatou que o religioso abordava estudantes na porta da escola e oferecia pequenas quantias em dinheiro para encontros.
Além de Leanderson, um adolescente de 17 anos também foi apreendido por participar do crime e está na Unei (Unidade Educacional de Internação). Ele estava presente na casa onde o padre foi morto e ajudou o amigo a jogar o corpo em uma área de mata no Distrito Industrial.
“O direito à intimidade não se sobrepõe ao direito fundamental da sociedade de se ver protegida contra atos de agressão praticados por terceiros, respeitando-se o valor constitucional outorgado à segurança coletiva em detrimento do particular”, afirmou o magistrado. A Polícia Civil tem 30 dias para encaminhar o laudo com o resultado da perícia nos celulares.
O crime – Pároco na cidade vizinha Douradina, o padre Alexandro morava numa casa localizada no Residencial Vival dos Ipês, na região sul de Dourados.
Na noite de 14 de novembro, familiares não conseguiram falar com Alexandro. Quando ligaram para o celular dele, outra pessoa atendeu, mas não revelou detalhes de quem seria. O aparelho foi rastreado e a localização apontava a região do Jardim Canaã I.
Um adolescente havia encontrado o celular jogado numa área de mata. A mãe dele entrou em contato com a polícia e informou sobre o ocorrido. Policiais civis foram até o local para saber sobre o telefone. No bairro, se depararam com o Jeep Renegade preto que pertencia ao padre.
O veículo era conduzido por Leanderson de Oliveira Junior. Ele estava na companhia de outro jovem, João Victor Martins Vieira, 18 nos, e de duas adolescentes de 17 anos. No Renegade foram encontradas a marreta e a faca usadas no crime.
Leanderson confessou o assassinato e apontou onde o corpo havia sido jogado enrolado num tapete. O outro adolescente que o ajudou também foi apreendido. Segundo a Polícia Civil, o grupo já havia negociado o veículo do padre com receptadores do Paraguai por R$ 40 mil. O Renegade seria entregue na linha internacional, mas antes de seguir viagem, Leanderson fez compra para levar para a casa da namorada, no Jardim Canaã I, onde foi preso.