Luccas Bagge, 32, o bandido que fugiu na madrugada de sábado (3), contou com a deficiências no sistema de vigilância para conseguir escapar do maior presídio de Mato Grosso do Sul, a Penitenciária Estadual de Dourados.
Meticulosamente elaborado, o plano se concretizou graças à precária iluminação no pátio da penitenciária e ao “buraco” na vigilância externa, feita por policiais penais das torres de observação. Do lado que ocorreu a fuga, havia policiamento apenas na torre 2. A torre 1 estava vazia.
O Campo Grande News apurou que após serrar a grade da janela da cela, Luccas Abagge saiu ao lado do pavilhão onde fica a padaria e de frente para celas do raio I. Depois se arrastou por pelo menos 50 metros do raio II até a muralha. Para chamar ainda menos atenção, ele estava de preto. Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que o preso se enrolou em sacos de lixo.
A horta mantida pela direção do presídio no pátio também foi fator preponderante. Ele aproveitou os arbustos de capim cidreira para se esconder do policial de plantão na torre 2. A manutenção da horta é motivo de críticas dos servidores. Segundo eles, a produção dificulta a visibilidade e aumenta os “pontos cegos”, usados por Luccas para conseguir escapar.
Outro detalhe que merece atenção é a grade que tinha sido instalada no corredor entre o alambrado e a muralha. Supostamente, essa grade era usada para separar o espaço onde ficam os cães de guarda criados dentro do presídio.
Depois de conseguir chegar ao corredor pouco iluminado, Luccas prendeu a “teresa” (corda feita com pedaços de pano) e subiu na muralha usando a grade. Depois se pendurou na corda de panos e desceu até o solo, do lado de fora, onde só tem mato. Nesta segunda-feira, a grade que separava os cães no corredor foi removida.
A reportagem apurou que familiares de presos, que acampam do lado de fora do presídio para esperar o horário de visita aos domingos, teriam visto um motociclista rondando o local por volta de 4h. possivelmente foi a pessoa que levou Luccas Abagge.
Preso famoso
Condenado a 121 anos de prisão no Paraná e recapturado em junho deste ano em Ponta Porã, Luccas Abagge ficou um tempo na Unidade Penal Ricardo Brandão e depois foi transferido para a PED.
Na penitenciária estadual, ele foi colocado no raio II, ocupado apenas por presos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), apesar de não fazer parte da facção.
Servidores do sistema penitenciário ouvidos pela reportagem afirmam que isso ocorre quando o preso tem amizade entre os faccionados. Há boatos de que o PCC o ajudou a fugir e voltar para o Paraguai, onde estava antes de ser preso em Ponta Porã, no dia 18 de junho deste ano.
Luccas carrega o sobrenome ligado à morte do menino Evandro Caetano, 6, que abalou o Brasil em 1992. A mãe de Luccas, Beatriz Abagge, foi acusada de matar a criança em Guaratuba, supostamente em ritual de magia negra.
Quando foi recapturado em Ponta Porã, Luccas usava documento falso, coincidentemente em nome de Evandro de Oliveira Ribeiro. Ele negou ser Luccas Abagge, mas a perícia confirmou se tratar do bandido procurado por várias mortes no Paraná.
Transferência
Luccas Abagge fugiu menos de quatro horas antes de ser transferido para a Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira 1, em Campo Grande.
Em CI (comunicação interna) à qual o Campo Grande News teve acesso, o diretor de Operações Acir Rodrigues pediu escolta reforçada ao Grupo Tático de Escoltas para garantir a transferência do preso. Fontes revelam que a equipe chegaria à PED às 8h de sábado para levar o bandido.
O Campo Grande News apurou que é rotina dentro da PED a remoção de presos em regime de transferência para uma cela isolada, conhecida como “Derf”, para facilitar a retirada do interno no momento da transferência. A cela fica mais próxima do portão de saída. Luccas Abagge, no entanto, continuou na cela do raio II.
A Agepen mantém silêncio sobre a fuga. No sábado, a agência informou que todos os procedimentos para a apuração estão sendo feitos e que o caso será investigado pela Corregedoria. Depois disso, não houve qualquer outra manifestação. A Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública) também não se manifestou. A fuga é investigada também pela Polícia Civil.
Crédito: Campo Grande News