Paulo Afonso de Lima Lange está sendo ouvido na sede do SIG em Dourados
Se apresentou na manhã desta sexta-feira (11) na sede do SIG (Setor de Investigações Gerais), em Dourados, o pecuarista e empresário Paulo Afonso de Lima Lange, 66, que na manhã de ontem matou a tiros o seu vizinho de fazenda, Volnei Kommers Beutinger, 52, médico veterinário e também proprietário rural. O crime ocorreu na fazenda de Paulo Lange, na margem da MS-468, no distrito de Itahum, município de Dourados.
Paulo Lange estava sendo procurado pela polícia desde ontem à tarde e se entregou na manhã de hoje. Ele está sendo ouvido pelo delegado Lucas Albe Veppo, chefe do SIG. Ainda não há informação se ele será autuado em flagrante.
Ontem, o delegado ouviu o depoimento de três testemunhas, entre elas o funcionário de Volnei e o filho de Paulo Lange.
Os dois confirmaram a história de que o crime ocorreu durante uma briga envolvendo Volnei e o filho de Paulo. Para defender o filho, o pecuarista disparou vários tiros com um revólver calibre 38 na direção do vizinho. Um dos disparos acertou o peito de Volnei, que morreu no local. A arma foi apreendida na casa de Paulo Lange.
De acordo com o delegado, as testemunhas também confirmaram que após o crime, Paulo Lange pegou o corpo de Volnei e levou até a fazenda da vítima.
Volnei Beutinger teria ido até a propriedade de Paulo para procurar um boi que havia escapado de sua área e entrado nas terras do vizinho. Os dois já possuíam desavenças. Paulo também é dono de loja de produtos veterinários na Avenida Joaquim Teixeira Alves.
Escravidão
Em abril de 2013, fiscalização conjunta do MPT (Ministério Público do Trabalho), da Polícia Federal e Ministério do Trabalho e Emprego flagrou um trabalhador submetido a condições semelhantes à escravidão na fazenda de Paulo Lange.
O homem de 49 anos de idade era o único empregado da fazenda e tomava conta da criação de gado e de cavalo crioulo. Por nove anos, trabalhou das 5h da madrugada até 21h, inclusive aos domingos e feriados.
Mesmo com carteira registrada, o empregado relatou que não recebia salário regularmente, não havia equipamentos de proteção individual e morava em casa precária, sem água potável, alimentando-se apenas de arroz, macarrão instantâneo e carne de animais abatidos por ele na fazenda. O açude usado para matar a sede dos animais era onde o trabalhador tomava banho e coletava água para beber e cozinhar.
Quase dez anos depois, em 4 de outubro de 2022, Paulo Lange foi condenado pelo juiz federal Fabio Fischer a quatro anos e quatro meses de reclusão em regime semiaberto por crimes contra a liberdade pessoal (condição análoga à de escravo).