Preso na Operação Cartão Vermelho, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), Francisco Cezário de Oliveira “escondeu” o balanço de 2023 da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul. No entanto, parte do orçamento é proveniente do poder público.
Apenas nos últimos sete anos, o Governo do Estado repassou R$ 6,5 milhões à FFMS, conforme o Portal da Transparência. Só neste ano, para o Campeonato Estadual, por meio do Fundo de Investimentos Esportivos, a administração estadual repassou R$ 1,203 milhão para a entidade comandada desde 1997 por Cezário.
Até 2022, a Federação de Futebol divulgava o balanço financeiro, conforme reportagem de O Jacaré. Naquele ano, a entidade arrecadou R$ 3,960 milhões, sendo R$ 1,988 milhão (50%) proveniente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e R$ 1,241 milhão (31,33%) da Fundesporte (Fundação de Desporto de Mato Grosso do Sul).
Apesar do investimento, a entidade máxima do futebol sul-mato-grossense fechou 2022 com déficit de R$ 492,1 mil. Coincidência ou não, após os números serem expostos ao público, a Federação de Futebol não divulgou o montante arrecado nem a despesa do ano passado.
Em um balanço medíocre, os auditores da Aupercon – Auditoria, Perícia e Consultoria MS se limitaram a informar que houve redução de 55% no prejuízo, de R$ 492,1 mil, em 2022, para R$ 218,5 mil no ano passado. No entanto, não houve nenhuma informação sobre o total de receitas nem despesas da FFMS.
O orçamento da federação vinha crescendo desde 2020, conforme os números disponíveis no site da CBF. Em três anos, a receita teve aumento de 53%, passando de R$ 2,5 milhões em 2020 para R$ 3,9 milhões em 2022.
O valor repassado pelo Governo do Estado teve correção de 74% entre 2020 e 2023, passando de R$ 775,7 mil para R$ 1,353 milhão. Em relação a 2022 (com repasse de R$ 1,2 milhão), houve aumento de 10%. Isso significa que o orçamento da federação superou R$ 4 milhões no ano passado.
Entre 2018 e este ano, o Governo do Estado repassou R$ 6,580 milhões para a Federação de Futebol. O dinheiro era usado para pagar despesas com as equipes em restaurantes e hotéis. De acordo com o Gaeco, houve desvio de dinheiro neste esquema também.
No total, conforme os promotores, a suposta organização criminosa comandada por Francisco Cezario desviou R$ 6 milhões dos cofres da federação entre 2018 e 2023. Parte da fortuna foi drenada por meio de saques de R$ 5 mil. Para ser ter ideia da ousadia e mansidão do grupo, foram 1,2 mil saques no período investigado. O montante supera R$ 3 milhões.
Com base no valor repassado em 2022, a CBF repassou R$ 168 mil por mês à federação.
Com a prisão de Cezário e seus sobrinhos, o Gaeco dá um passo importante para abrir o caixa preta da Federação de Futebol e pode expor os motivos da decadência do futebol de Mato Grosso do Sul. Enquanto o Mato Grosso começa a despontar com um time na primeira divisão, MS não consegue passar da primeira fase da série D e ostenta a vergonhosa 3ª colocação de pior futebol do País.