Denúncia anônima revela suposto tráfico de influência praticado pelos dois vereadores douradenses
Momento em que assessora de Lia era operada, sem passar pela Regulação (Imagem: Divulgação)
Chegou nesta segunda-feira (10) ao Ministério Público o suposto tráfico de influência praticado pelos vereadores Diogo Castilho (DEM) e Lia Nogueira (PP) no episódio envolvendo o atendimento médico à servidora da Câmara Patrícia Brandão, lotada no gabinete da vereadora.
A denúncia anônima foi feita à Ouvidora do Ministério Público de Mato Grosso do Sul e encaminhada à Promotoria de Justiça em Dourados pelo procurador de Justiça Antonio Siufi Neto, ouvidor em exercício do MPMS.
Leia a denúncia na íntegra:
“Na última quarta-feira (05/05) aconteceu no município de Dourados atendimento da paciente Patrícia Brandão, assessora parlamentar da vereadora Maria Imaculada Nogueira – Lia Nogueira com suposto tráfico de influência/favorecimento/privilégio, sem seguir as recomendações e normas do Ministério da Saúde que a população sem padrinho tem que seguir, foi utilizado benefício do cargo para burlar a fila regulada pela Central de Regulação.
O atendimento foi direcionado pelos vereadores Lia Nogueira e Dr. Diogo Castilho, beneficiando do cargo de vereadores em Dourados em detrimento e respeito à população que aguarda os trâmites legais mesmo sofrendo com problemas de saúde. O que me causou mais indignação é o fato de terem que prestar exemplo pelo cargo público que ocupam, são da comissão de saúde e propiciam jeitinho para alcançar os benefícios.
Por mais que tenha sido salva uma vida, que é louvável, até onde se sabe nenhum dos dois vereadores são resgate do município, tendo em vista que possuímos o Samu para urgências e emergências e que teria feito tudo dentro da moralidade e da legalidade.
É de causar indignação furar fila e desrespeitar a fila para nós que esperamos o tão sonhado atendimento e amenização da dor que passamos.
Esse fato pode ser constatado com a relação da fila de espera de pessoas do dia 05/05 na Central de Regulação que infelizmente não assessora ou tem vereador para furar fila.
Venho através pedir ajuda do promotor para atuar e apurar se houve desvio de conduta ou se podemos buscar jeitinhos ou até mesmo recorrer aos vereadores para conseguirmos ter atendimento médico em Dourados”.
Cópias das reportagens do Dourados Informa foram anexadas às denúncia.
O caso
No dia 5 deste mês, Diogo Castilho e Lia Nogueira usaram de influência política para internar Patrícia Brandão no Hospital da Vida sem passar Central de Regulação. O procedimento é considerado irregular, porque o protocolo determina que todas as internações passem pela central que regula as vagas nos hospitais públicos.
A denúncia foi feita por leitor ao Dourados Informa. A Funsaud (Fundação de Serviços de Saúde), que administra o Hospital da Vida e a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), confirmou a entrada ilegal da paciente.
“A Funsaud afirma que a paciente estava acompanhada dos vereadores Lia Nogueira e Diogo Castilho e foi atendida pela médica plantonista. O procedimento correto seria a paciente dar entrada pela UPA, onde o médico faz a avaliação e depois o encaminhamento conforme a gravidade do caso”, afirmou A Funsaud.
A diretora técnica da Funsaud Angela Marin também confirmou que o atendimento sem passar pela Regulação ocorreu por interferência dos dois vereadores.
Diogo Castilho disse que foi chamado para ver a paciente por volta de 19h do dia 5 quando ela já estava no Hospital da Vida. “Ela foi atendida pelo plantonista, conversei com o cirurgião e ele operou a paciente”, afirmou.
Ele afirmou que Lia Nogueira teria lhe dito que havia feito contato com a diretora técnica da Funsaud, Angela Marin. “Parece que a Angela tinha autorizado”, disse ele, sem citar que a paciente é assessora da colega de Legislativo.
Procurada assim que o Dourados Informa recebeu a denúncia, Lia Nogueira se negou a comentar o caso e preferiu ameaçar processar o jornal.
Horas mais tarde, no entanto, ela enviou nota Lia afirmou que Patrícia Brandão passou mal e corria risco de morte se não recebesse atendimento urgente.
“Ainda no plenarinho da Câmara, a servidora teve crises e quase desmaiou. Diante do quadro, foi avaliada pelo vereador e médico Diogo Castilho e imediatamente levada a uma unidade de saúde”, afirmou a vereadora.
Segundo Lia Nogueira, como o caso era grave e com risco iminente de morte, já que a servidora apresentava quadro de possível rompimento do apêndice, Diogo Castilho, que é médico, decidiu encaminhar a servidora com urgência ao Hospital da Vida.
O procedimento cirúrgico, chamado de “laparotomia exploradora por apendicite aguda”, foi feito pelo médico Rogério Watanabe. Apesar da alegada gravidade do caso, inclusive com risco de morte, a servidora teve alta no dia seguinte e se recupera em casa.
Na tribuna
Em discurso durante sessão da Câmara, ontem à tarde, Lia Nogueira falou sobre o caso e disse que se tiver de perder o mandato por salvar uma vida terá certeza do dever cumprido. Ela voltou a afirmar que a assessora, a quem chamou de “parceira de muitos anos”, está viva por causa da intervenção de Diogo Castilho.
“Mulher simples e batalhadora e que por pouco não morreu nesta Casa de Leis. Todo protocolo foi cumprido”, afirmou ela.
