Seis meses. Esse foi o tempo suficiente para a vereadora Isa Jane Marcondes, eleita com discurso de renovação e coragem, acumular confusão, processos e desafetos — agora, incluindo a imprensa de Dourados. Em um comentário nas redes sociais, ela escreveu que só responde a “mídia séria” e “jornalistas sérios que fazem matérias verdadeiras”, em resposta a uma publicação do site Ligado Na Notícia, que trouxe à tona nota de repúdio protocolado na Câmara Municipal pelo Coren-MS (Coselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul).
O comentário da vereadora que, antes da publicação da matéria foi procurada pela reportagem para que pudesse se posicionar, foi uma tentativa direta de desqualificar o trabalho jornalístico, mesmo sem apontar erro algum na matéria. E mais: ignorando que o conteúdo estava respaldado por documentos públicos — os mesmos documentos que ela deveria, como parlamentar, respeitar e defender.
Desde que assumiu o cargo, em janeiro deste ano, Isa Jane se esforça para mostrar serviço. O problema é o jeito como ela tem feito isso. Em vez de diálogo, confronto. Em vez de construção, exposição. A vereadora tem rodado unidades de saúde, gravado vídeos com celular na mão, questionado servidores diante das câmeras e, muitas vezes, publicado sem filtrar o impacto que isso causa. O resultado? Médicos e enfermeiros constrangidos, pacientes filmados sem saber e uma cidade dividida entre quem aplaude o estilo agressivo e quem enxerga oportunismo.
O que era para ser uma fiscalização virou espetáculo. E, como todo espetáculo, precisa de vilão — neste caso, qualquer um que discorde dela.
A vereadora já é alvo de quatro processos na Justiça, conforme apurado em fontes oficiais. São dois por danos morais, um por calúnia e um por quebra de decoro parlamentar, este último protocolado por um servidor público, cansado do que chama de “exposição política disfarçada de fiscalização”.
Agora, a imprensa entrou na lista de alvos. O motivo? Uma matéria que ela não gostou. Em vez de responder ao pedido de posicionamento enviado com antecedência, preferiu ir às redes sociais e debochar. Disse que só fala com quem ela considera sério. Como se o papel da imprensa fosse agradar e não informar.
É o tipo de postura que acende um alerta: quando uma figura pública escolhe quem pode ou não fazer perguntas, quem pode ou não divulgar fatos, ela deixa de prestar contas. E começa a se blindar num mundo onde só cabe quem concorda com ela.
Isa Jane ainda tem muito tempo pela frente no mandato. Mas se seguir nesse ritmo, transformando crítica em ataque pessoal e fiscalização em palco, vai passar mais tempo respondendo a processos do que aprovando projetos. Dourados não precisa de mais confusão — precisa de solução. E, sobretudo, de respeito.