Vereadores de Campo Grande teriam “coagido” empreiteiras a pagar R$ 1 milhão para apresentar emenda para mudar o Plano Diretor Urbano. A denúncia foi feita pelo pré-candidato a prefeito e vereador Professor André Luís (PRD), na sessão de terça-feira (25), e abalou a política de boa vizinhança entre os parlamentares.
A suspeita é mais uma a comprometer a imagem do legislativo, que se negou a abrir processo de cassação contra Claudinho Serra (PSDB), réu pelo desvio milionário e por cobrar propina de 10% a 30% na Prefeitura de Sidrolândia. O tucano ficou preso por 23 dias e está de tornozeleira eletrônica.
Antes de votar os vetos da prefeita Adriane Lopes (PP) ao Projeto de Lei 11.274/2024, que permite a ampliação do perímetro urbano da Capital mediante o pagamento de outorga, André Luís colocou fogo, literalmente, no parquinho.
“Fiquei HORRORIZADO, horrorizado com as emendas”, começou o parlamentar, que classificou as propostas dos colegas como “aberração” e “teratológicas” por expandir a cidade mesmo com 40% dos vazios urbanos.
“Recebi uma denúncia, eu vou atrás para saber. Essas emendas foram apresentadas por vereadores que coagiram as empreiteiras a pagar R$ 1 milhão. Vou atrás disso para saber se isso é verdade. É uma vergonha para essa casa”, denunciou o Professor André Luís, que não citou o nome de nenhum parlamentar.
Ao ser questionado sobre o assunto, o pré-candidato a prefeito afirmou que manterá a acusação. No entanto, ele corrigiu que ficou sabendo que a cobrança teria sido feita por apenas um vereador.
As propostas foram apresentadas pela Mesa Diretora, pelo próprio Professor André Luís e pelos vereadores Otávio Trad (PSD) e Papy (PSDB). Os dois últimos ficaram indignados com a suspeita, mesmo sem citar o nome do acusado de cobrar a propina. Papy ameaçou registrar boletim de ocorrência contra o colega de parlamento por calúnia.
“Carlão me disse que o vereador se confundiu e vai se retratar e tals, vou esperar!”, afirmou Papy, recuando da decisão de levar o caso à Polícia Civil. “Mas entendo que a Câmara deveria se manifestar porque o vereador disse sobre todos, a emenda que ele se referia é de autoria da mesa, nem é a minha”, explicou.
“Não podemos aceitar declarações sérias como essas pra ganhar mídia em véspera de eleição. O parlamento é sério, formado por pessoas que precisam agir com a devida liturgia do cargo. Por isso, principalmente, me manifestei. Não acho justo, alguém acusar e ficar por isso mesmo”, pontuou Papy. “Mas vou aguardar a retratação e esperar os direcionamentos da presidência”, concluiu.
“Quanto a fala do vereador é injusta e irresponsável”, reagiu Otávio Trad. “Sempre faço emendas para melhorar os projetos. Se você for analisar as emendas apenas alteram minimamente a própria redação do próprio projeto original”, justificou o vereador.
A mudança no Plano Diretor envolve projetos bilionários e conjuntos residenciais de luxo, que estão sendo construídos além do anel viário e precisam ser regulamentados. De acordo com um parlamentar, a Lei do Uso e Ocupação do Solo só seria alterada no próximo ano, mas a prefeita Adriane Lopes antecipou a mudança para este ano.
O Correio do Estado chegou a divulgar que a propina teria sido cobrado por quatro vereadores e cada um estava exigindo um imóvel de R$ 1 milhão para aprovar a mudança.
O presidente da Câmara, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), minimizou o episódio. “Ele disse que a pessoa achava , suponha”, frisou o socialista. “Vamos aguardar”, disse, sobre a apresentação de provas e fatos concretos por parte de André Luís.