Com apenas 4.015 habitantes, a cidade de Jateí vai gastar R$ 625 mil de dinheiro público com três shows sertanejos durante a 45ª Festa da Fogueira, que vai ocorrer de 1º a 3 de julho deste ano. Conforme o IBGE, 36,2% dos moradores sobrevivem com renda per capita inferior a meio salário mínimo (R$ 606) por mês. Além disso, a prefeitura não tem dinheiro para pagar o piso nacional dos professores.
O maior cachê, de R$ 250 mil, será pago ao músico Michel Teló. O segundo maior valor, de R$ 235 mil, será pago ao astro Luan Santana. Já a dupla Marcos e Belutti vai ganhar R$ 140 mil. Todo o dinheiro é público e será proveniente dos cofres do município.
No 5º mandato como prefeito do município, Eraldo Jorge Leite (PSDB), defende o gasto com shows sertanejos. “Todos os anos, trazemos artistas nacionais e nesse ano, calhou de ser Luan Santana, Michel Teló e Marcos Belutti. Realizo essa festa há mais de 20 anos”, explicou o tucano em entrevista ao Campo Grande News.
“Estou no meu 5º mandato e me preocupo com o que estão fazendo em relação ao sertanejo. Todos os anos fizemos isso. Precisamos nesse momento, após dois anos de pandemia e sem realizar a festa, retomar a economia. Será da melhor qualidade e todo mundo ganha com isso”, justificou-se.
Como a cidade tem 4.015 habitantes, considerando-se os dados do ano passado, significa que os três shows vão custar R$ 155 para cada morador de Jateí.
No entanto, Leite não sabe se o investimento tem retorno. “Não sei quanto disso retorna ao município. Mas garanto que movimenta muito a cidade e não faz falta na saúde, na educação, na infraestrutura, assistência social”, justificou-se. O problema é que Jateí não paga o piso nacional da educação para os professores.
De acordo com a Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul), Jateí e Paraíso das Águas são os únicos municípios que não pagam o piso nem para o docentes com apenas nível médio.
Não é apenas na educação que falta dinheiro na pequena cidade. De acordo com o IBGE, apenas 13,2% da população local está ocupada. E 36% possuem renda per capita inferior a meio salário mínimo.
A polêmica com os shows sertanejos começou após artistas ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) criticaram o uso da Lei Rouanet por artistas. Ao criticar os músicos e atores de esquerda, os sertanejos insinuaram que não dependiam de dinheiro público. Inicialmente, a crítica era de que eram bancados pelo agronegócio.
O caso virou escândalo com a revelação dos cachês pagos a Gustavo Lima. Uma prefeitura de Minas Gerais iria pagar R$ 1,2 milhão ao sertanejo. Outra no interior da Bahia iria pagar R$ 800 mil, mas a festa foi cancelada pela Justiça. Outra cidade pobre como Jateí, São Luiz do Sul, em Roraima, iria pagar R$ 800 mil também. Já até foi aberta uma CPI para investigar o pagamento de 29 shows sertanejos.
Ontem, O Jacaré revelou que a gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB) já empenhou R$ 6,1 milhões para pagar shows de músicos sertanejos apenas neste ano. A dupla mais beneficiada é Jads e Jadson, com R$ 1,320 milhão garantidos até o momento. A dupla Munhoz e Mariano ficará com R$ 750 mil. João Bosco e Vinicius tem R$ 517 mil.