Abrir mão da proteção oferecida pelas vacinas está gerando um quadro na saúde que vai além da surpresa e indignação sobre a escolha, nos Estados Unidos, por exemplo, há médicos que nem sequer conseguem ter agilidade no diagnóstico, já que a doença já foi considerada erradicada em muitos países.
De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, três estados (Pensilvânia, Nova Jersey e Washington – DC) registraram casos, mas os médicos precisaram reaprender a detectar e diagnosticar o sarampo que, naquele país, foi erradicado em 2000. A doença, alerta o centro, não chegou a fazer parte do treinamento dos jovens médicos, já que os níveis de vacinação a mantinham longe dos norte-americanos.
“Os médicos de emergência contemporâneos ou os que trabalham nos departamentos de emergência seriam capazes de reconhecer o sarampo inicialmente na primeira vez? E a resposta provavelmente é não”, alertou Nicholas Cozzi, diretor médico do Rush University Medical Center, de Chicago.
O médico ressalta que a mesma situação pode ocorrer entre profissionais de saúde de outros países, porque a doença está na lista das de maior oferta de imunização. No Brasil, a vacinação contra o sarampo está sob controle, conforme o Ministério da Saúde, mas há a preocupação com a importação de casos, devido ao aumento de registro em países desenvolvidos como os Estados Unidos e aqueles integrantes do Bloco Europeu. Dados do Ministério da Saúde apontam que após o registro dos últimos casos de sarampo no ano de 2015, o Brasil recebeu em 2016 a certificação da eliminação do vírus.
Nos anos de 2016 e 2017, não foram confirmados casos da doença, contudo, em 2018,o vírus voltou a circular e, em 2019, após um ano de circulação residual do vírus, o País perdeu a certificação de “livre do vírus do sarampo”, dando início a novos surtos da doença. Os anos seguintes foram preocupantes. No período de 2018 a 2022 foram confirmados respectivamente 9.325, 20.901, 8.100, 676 e 44 casos de sarampo.
Ativismo antivacina
Os dados apontam que a onda de ativistas contrários à vacinação está no topo da fragilidade da saúde de crianças e adultos. Em 2023, a OMS (Organização Mundial de Saúde) registrou mais de 30 mil casos em 40 dos 53 países da União Europeia. Na comparação com 2022, em que se contabilizaram 941 casos, em 2023 houve um aumento anual de mais de 30%. O aumento pode ser justificado com a quebra de adesão às vacinas utilizadas para prevenir a doença, explica o serviço de saúde português.
Para a médica infectologista Erica Pan, a circulação do vírus pode prejudicar o fornecimento de cuidados e pressionar os serviços de saúde à medida em que os casos aumentam. “O sarampo está aumentando mais uma vez, e os médicos deveriam estar atentos aos sintomas, à medida que mais pessoas não vacinadas viajam e potencialmente trazem a doença altamente contagiosa de países onde é mais comum e depois a transmitem para indivíduos não vacinados”.
Os dados abaixo foram divulgados pelo Ministério da Saúde para alertar sobre o sarampo:
Sarampo é uma doença infecciosa grave, causada por um vírus, que pode levar à morte. Sua transmissão ocorre quando o doente tosse, fala, espirra ou respira próximo de outras pessoas. A maneira mais efetiva de evitar o sarampo é por meio da vacinação.
Os principais sinais e sintomas do sarampo são:
Exantema (manchas vermelhas) no corpo e febre alta (acima de 38,5°) acompanhada de um ou mais dos seguintes sintomas:
Tosse seca;
Irritação nos olhos (conjuntivite);
Nariz escorrendo ou entupido;
Mal-estar intenso;
Em torno de 3 a 5 dias é comum aparecer manchas vermelhas no rosto e atrás das orelhas que, em seguida, se espalham pelo restante do corpo. Após o aparecimento das manchas, a persistência da febre é um sinal de alerta e pode indicar gravidade, principalmente em crianças menores de 5 anos de idade.
Formas de transmissão:
A transmissão do vírus do sarampo ocorre de pessoa a pessoa, por via aérea, ao tossir, espirrar, falar ou respirar. O sarampo é tão contagioso que uma pessoa infectada pode transmitir para 90% das pessoas próximas que não estejam imunes.
A transmissão pode ocorrer entre 6 dias antes e 4 dias após o aparecimento das manchas vermelhas pelo corpo.
Prevenção
O sarampo é uma doença prevenível por vacinação. Os critérios de indicação da vacina são revisados periodicamente pelo Ministério da Saúde e levam em conta: características clínicas da doença, idade, ter adoecido por sarampo durante a vida, ocorrência de surtos, além de outros aspectos epidemiológicos. A prevenção do sarampo está disponível em apresentações diferentes. Todas previnem o sarampo e cabe ao profissional de saúde aplicar a vacina adequada para cada pessoa, de acordo com a idade ou situação epidemiológica.
Os tipos de vacinas são:
Dupla viral – Protege do vírus do sarampo e da rubéola. Pode ser utilizada para o bloqueio vacinal em situação de surto;
Tríplice viral – Protege do vírus do sarampo, caxumba e rubéola;
Tetra viral – Protege do vírus do sarampo, caxumba, rubéola e varicela (catapora).
O sarampo é uma doença grave que pode deixar sequelas por toda a vida ou até mesmo causar a morte. A vacina é a maneira mais efetiva de evitar que isso aconteça. Algumas das complicações do sarampo são:
Pneumonia (infecção no pulmão) – Cerca de 1 em cada 20 crianças com sarampo pode desenvolver pneumonia, causa mais comum de morte por sarampo em crianças pequenas;
Otite média aguda (infecção no ouvido) – Ocorre em cerca de 1 em 10 crianças com sarampo e pode resultar em perda auditiva permanente;
Encefalite aguda (inflamação no cérebro) – 1 a 4 em cada 1.000 crianças podem desenvolver essa complicação e 10% destas podem morrer;
Morte – 1 a 3 a cada 1.000 crianças doentes podem morrer em decorrência de complicações da doença.
Diagnóstico
Diagnóstico pode ser clínico (pessoas que apresentam os sinais e sintomas da doença), no entanto, o ideal é que seja laboratorial, por sorologia (amostra de sangue), e também por biologia molecular (amostras de secreção de orofaringe, nasofaringe, urina).
Tratamento
Não existe tratamento específico para o sarampo. Os medicamentos são utilizados para reduzir o desconforto ocasionado pelos sintomas da doença. Não faça uso de nenhum medicamento sem orientação médica e procure o serviço de saúde mais próximo, caso apresente os sintomas descritos acima.