O ar-condicionado pode influenciar um setor inteiro no Brasil? A resposta, por mais incrível que pareça, ou talvez improvável para alguns, é sim. De fato, nos últimos anos, o setor de climatização no Brasil atravessou um processo de expansão sem precedentes quando se observa esse fenômeno por uma perspectiva cronológica do tempo.
Esse movimento deu-se, sobretudo, impulsionado pelas mudanças climáticas, que se mostram cada vez mais evidentes na temperatura do planeta. De fato, o aumento das temperaturas médias e a frequência recorde de ondas de calor em 2023 e 2024 aceleraram a demanda por soluções de conforto térmico.
Panorama de mercado em alta
Atualmente, os números mostram um cenário atípico, quando comparado com 10 anos atrás. Em 2024, por exemplo, o Brasil comercializou 5,88 milhões de aparelhos de ar-condicionado. Estes valores representam um crescimento de 38%, em um comparativo realizado com 2023, o maior volume já registrado na época.
Além disso, neste ritmo acelerado, a produção nacional acompanhou o movimento. Na totalidade, foram 5,9 milhões de unidades fabricadas, processo que colocou o Brasil como o segundo maior polo mundial, ficando atrás somente da China.
Sem dúvidas, um movimento expressivo como este não poderia ocorrer e materializar-se sem influenciar a economia diretamente. Não é à toa que o setor HVAC-R (aquecimento, ventilação, ar-condicionado e refrigeração) faturou R$ 41 bilhões em 2024, mantendo um crescimento médio de 10% ao ano.
É importante enfatizar, também, que o desempenho nos mostrou outros pontos importantes: a força de consumo interno e a capacidade nacional da indústria em responder à demanda crescente.
O peso do clima impacta diretamente as vendas
Seria um equívoco pensar que os acontecimentos poderiam ser interpretados isoladamente. Na realidade, muito pelo contrário. O motor deste avanço tem nome e sobrenome: ondas de calor históricas.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os episódios de 2023 e 2024 foram classificados entre os mais longos já registrados desde o processo de ocupação do território nacional.
Por consequência direta, as temperaturas acima da média por semanas a fio acabam alterando hábitos de consumo e impulsionam, de forma abrupta, a procura por equipamentos de climatização. Nesse contexto, nos dias de calor mais intenso, marketplaces registraram saltos nas buscas por ar-condicionado — de 201% em nov/2023 (Mercado Livre, 1ª quinzena) e de 48% na 1ª quinzena de fev/2025, a depender do período e base de comparação.
Mato Grosso do Sul em foco. O estado tem enfrentado ondas de calor sucessivas, com picos acima de 40 °C e recordes locais de consumo de energia. Em 25/09/2024, Água Clara marcou 43,1 °C (entre as maiores do Brasil 5 e 26/09, com recordes sucessivos de carga. No varejo local, houve falta pontual de estoque e relatos de espera de até um mês por ar-condicionado no início de 2024, evidenciando o “boom” de demanda.
Tendências que devem marcar 2025
A primeira tendência, sem dúvidas, é a eficiência energética. Hoje, o cenário mostra que cresceu a procura por aparelhos com selo Procel A e por tecnologias inverter. Mas qual é a razão deste movimento? Em suma, as tecnologias reduzem o consumo de energia em até 40% e oferecem funcionamento mais silencioso, também.
A sustentabilidade é outro elo desta questão. Neste caso, a substituição de gases refrigerantes mais poluentes por alternativas como o R-32 e o R-290 é outra tendência, dialogando diretamente com o debate global sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Outra tendência diz respeito à própria expansão geográfica. Se, em um dado momento do tempo e do espaço, a climatização era mais presente em grandes centros do Sudeste e em capitais do Norte e do Nordeste, hoje o avanço atingiu também cidades médias e regiões tradicionalmente menos atendidas.
No fim, o crescimento da indústria de climatização possui forte ligação com as transformações do clima nos últimos anos. Ferramentas que um tempo atrás eram consideradas status social, hoje, tornam-se indispensáveis para encarar os desafios da contemporaneidade.
Escolas, hospitais, empresas, residências, mercados, entre outras tantas estruturas sociais, precisam de um ar-condicionado para o conforto térmico das pessoas que ali trabalham e frequentam.
Para o consumidor, a escolha hoje não é mais entre ter ou não climatização, mas, sim, qual modelo atenderá melhor às necessidades. Se o calor histórico trouxe desconforto e riscos à saúde, também abriu caminho para a consolidação de um setor que deve seguir em expansão e atender as demandas do povo brasileiro.