Homem de 26 anos foi ouvido como testemunha do caso, no dia 9 de março em inquérito que ainda está parado
Aos 44 anos, a professora Anderci da Silva partiu no fim de semana passado deixando tristeza para a família e um mistério policial a ser resolvido. Como ela foi parar na porta do Hospital da Cassems, no dia 22 de fevereiro, com um tiro na lombar que se revelou mortal, um mês depois?
O fio da meada dessa resposta traz o namorado dela, de 26 anos, para dentro do drama no qual se transformou o fim da vida de Anderci.
Sindicalista, ativa nos movimentos em defesa da educação, respeitada em sua área, definida nas redes sociais com muito carinho por quem a conheceu, ela havia mudado a vida, para pior, indica o conteúdo obtido pelo Campo Grande News.
A família enfrentava dificuldades até para ter contato com ela depois do novo relacionamento e, diante do fim trágico, não quer tocar no assunto em público.
No depoimento na 3ª Delegacia de Polícia Civil, dado no dia 9 de março, o homem com quem Anderci se relacionava havia pouco mais de seis meses admitiu tê-la abandonado na frente do hospital. Na versão dele, isso ocorreu depois de assalto frustrado, cujo objetivo era pagar dívida de droga.
A história contada pelo homem de 26 anos é de que ambos haviam comprado entorpecente para consumirem juntos. Acabou a droga, mas ficou o valor a pagar, disse na delegacia.
Veio, diz, a decisão de cometer um roubo. A vítima, afirmou o rapaz, foi um ciclista, atacado em rua do Bairro Monte Castelo. O casal se preparava para levar o veículo, possivelmente para venda, quando apareceu um motociclista e disparou contra o carro onde estavam, o Voyage de Anderci.
Ainda assim, continuaram o trajeto. Em dado momento, ela avisou sobre estar ferida. O namorado, então, decidiu levá-la para o hospital, mas não acompanhou sequer os trâmites de internação.
Foram os funcionários do estabelecimento que acionaram as forças policiais. A Polícia Civil, à época, registrou o caso informando que a mulher foi deixada na frente do hospital, ferida. Ela foi levada em uma camionete,
Só no dia 9 de março, o companheiro foi à 3ª Delegacia de Polícia Civil, levando o veículo da namorada, que havia sido usado para cometer o assalto, diz ele.
Quando a professora morreu, no dia 22 de março, a filha procurou a Polícia Civil, na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), no Centro de Campo Grande, dando informações indicando a dificuldade da família de ter contato com a mulher desde o ano passado e apontando um contato com o namorado da vítima, com quem ela estava vivendo. Antes, morava em Dourados e tinha trabalho fixo por lá.
O nome do envolvido está sendo preservado por não haver ainda acusação formal contra ele. O homem tem registro de boletim de ocorrência por violência doméstica, de uma namorada anterior, com quem tem um filho.
Sem condições – Indagado sobre o motivo que fez o rapaz abandonar a mulher ferida na porta do hospital, o advogado dele, Jean Cabreira, alegou que o cliente não tinha “condições psicológicas” para ficar com ela no momento. Não foi detalhado por ele o motivo disso.
Sobre Anderci ter sido levada em uma camionete e não no Voyage para o hospital, o advogado disse que de fato ela foi transferida de um veículo para o outro pelo cliente.
O relato dele sobre o caso foi feito ao delegado Ricardo Meirelles, da 3ª Delegacia de Polícia Civil, segundo levantado pelo Campo Grande News. Essa unidade é a que cuida da região do hospital, na Avenida Mato Grosso.
Mas não é esse delegado quem vai conduzir a investigação por homicídio simples agora que a vítima se foi. O caso foi transferido para a 2 Delegacia de Polícia Civil, no Bairro Monte Castelo, responsável pela região da cidade onde a mulher foi ferida.
Meirelles foi procurado esta semana para falar dos procedimentos feitos no início da investigação, como o depoimento do namorado e ainda os pedidos de laudo no veículo e perícia no local de crime. A resposta foi que não se pronunciaria sobre investigação enviada para outra unidade.
Na delegacia do Bairro Monte Castelo, a informação dada é de que só quando o expediente voltar ao normal, por causa das restrições impostas por decreto estadual, a apuração será retomada e poderão ser dadas informações. Na semana passada, só as delegacias plantonistas estavam funcionando.
Não é afastada a possibilidade de um feminicídio, por exemplo, mas pelo que foi apurado, são consideradas plausíveis as primeiras informações de que o tiro veio de uma terceira pessoa, do lado de fora do carro.
Na família de Anderci, ninguém fala, como já citado. O posicionamento dado à reportagem é de que não há porque remexer a memória da professora.