A partir de 20 de dezembro, quem visitar Bonito terá que pagar a TCA (Taxa de Conservação Ambiental), no valor de R$ 15 por pessoa e por dia. A cobrança — que estava prevista em lei municipal desde 2021, mas só agora será aplicada — virá acompanhada de um seguro obrigatório para todos os visitantes. Embora a prefeitura afirme que o objetivo é reforçar as políticas de preservação, o anúncio às vésperas da alta temporada, sem ampla campanha de esclarecimento, gerou apreensão no setor turístico e entre visitantes.
O pagamento será feito exclusivamente pelo portal turistapornatureza.com.br, onde o turista precisa informar dados pessoais, registrar o período da estadia e emitir um voucher após quitar o valor. Agências e guias temem que o procedimento, dependente de internet e cadastro digital, dificulte a vida de quem viaja de forma improvisada ou tem menos familiaridade com tecnologia. A prefeitura não confirmou se haverá pontos de apoio físico para atender turistas com dificuldades no processo.
O valor da taxa será o mesmo para brasileiros e estrangeiros. Crianças de até 7 anos, moradores de Bonito e trabalhadores que atuam no município não precisarão pagar — desde que consigam comprovar a condição caso sejam abordados. A falta de diferenciação na cobrança, prática adotada em destinos internacionais, gerou questionamentos de empresários sobre o impacto no fluxo de visitantes de menor renda.
Além da taxa, o visitante passa automaticamente a contar com um seguro obrigatório válido durante todo o período em que permanecer no município. As coberturas incluem morte acidental e invalidez de até R$ 20 mil, auxílio-funeral de até R$ 5 mil e reembolso de hospedagem para acompanhantes em caso de internação após acidente em atrativos licenciados, limitado a R$ 900. Apesar disso, pouco se sabe sobre a operação prática do serviço: como o turista aciona a assistência, se haverá atendimento 24 horas e quais documentos serão aceitos para comprovar a relação entre o acidente e o atrativo visitado.
A prefeitura afirma que todo o valor arrecadado pela TCA será destinado a ações ambientais, como ampliação da coleta seletiva, revitalização de áreas degradadas, arborização urbana, manutenção de estradas vicinais e campanhas educativas. O decreto aponta uma lista extensa de possíveis investimentos, mas não define metas, prazos nem mecanismos de auditoria pública, o que levanta dúvidas sobre a transparência na aplicação dos recursos.
Embora a nova cobrança tenha repercutido de forma abrupta em Bonito, o modelo não é novidade no Brasil. Destinos turísticos sensíveis já adotam taxas semelhantes, entre eles Fernando de Noronha, que há anos cobra a Taxa de Preservação Ambiental; Jericoacoara, no Ceará, com sua taxa de turismo sustentável; Bombinhas, em Santa Catarina, que cobra tarifa de veículos na alta temporada; além de Ubatuba, Alto Paraíso, Santo Amaro, Ilhabela e Campos do Jordão, que criaram cobranças para apoiar ações ambientais e de ordenamento da visitação.
A comparação mostra que Bonito segue uma tendência nacional, mas evidencia também que muitos desses destinos oferecem modelos mais graduais ou diferenciados — por temporada, perfil do visitante ou tipo de acesso. Bonito, porém, optou por uma cobrança linear, sem distinções e anunciada em cima da hora, o que ampliou o desconforto entre quem depende do turismo para trabalhar e quem planeja a viagem como investimento de fim de ano.
Mesmo com a justificativa ambiental, a prefeitura terá o desafio de comunicar melhor o funcionamento da taxa, esclarecer dúvidas sobre o seguro obrigatório e garantir transparência no uso dos recursos. Em um destino que se vende como exemplo mundial de sustentabilidade, a forma como a medida foi implantada será tão observada quanto seus resultados.