O empresário e advogado Christopher Pinho Ferro Scapinelli foi um dos alvos nesta terça-feira (11) da Operação Sommelier, sob suspeita de ser o beneficiado pela fraude usando empresa de vinhos como fachada para assinar contratos com a Prefeitura de Douradina.
Segundo investigação do Ministério Público, sem concorrentes e com prévia preparação feita com ajuda de pelo menos 6 servidores públicos do município, o certame “viciado” aprovou a empresa do esquema e desclassificou as demais candidatas ao serviço.
A Delta Concursos e Treinamentos não só foi escolhida como conseguiu dobrar o valor inicial sugerido à prefeitura para a execução do serviço, que passou de R$ 65.000,00 para R$ 154 mil.
O concurso, segundo os investigadores "cheio de erros", não só prejudicou candidatos como também serviu para aprovar a secretária de Saúde do município Angela Cristina Marques Rosa e o filho dela, Caio Magno Marques Souza, nos cargos de coordenadora pedagógica e motorista, respectivamente.
A operação de hoje foi comandada pelo Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) para cumprir 11 mandados de busca e apreensão em Douradina, Dourados, Florianópolis e Itaporã, onde mora o procurador jurídico do município, Thiago de Lima Holanda. Foram apreendidos R$ 180 mil em espécie.
O Gecoc cita envolvimento de dois servidores lotados no Setor de Compras, da secretária de Saúde, além da secretária de Administração, de uma pregoeira e do procurador jurídico de Douradina. Esses dois últimos teriam atuado “na formatação do fajuto mapa comparativo de preços, o qual serviu aos desígnios do grupo a fim de justificar o superfaturamento e a desclassificação dos concorrentes."
Segundo a denúncia, os envolvidos “dolosamente desclassificaram as propostas concorrentes, com a injustificável e imotivada alegação de serem inexequíveis, e mais, aduzindo, sem qualquer fundamentação ou justificação, que as concorrentes não ‘dariam conta de fazer o concurso’, em que pese fossem empresas com expertise na área, totalmente diferente da empresa contratada”.
Conforme o site Campo Grande News, três meses antes da abertura do processo licitatório, Christopher já mantinha contato com a secretária de Saúde de Douradina para afinar os procedimentos a serem adotados até a assinatura oficial.
A mesma secretaria já havia contratado a empresa de advocacia de Christopher para "assessoria e consultoria em saúde pública, gerenciamento de gestão de Atenção Básica, treinamentos e acompanhamentos em todos os programas pertinentes e atenção básica, média e alta complexidade, para o período de 12 (doze) meses, ao custo total de R$ 240.0000,00”
Concurso viciado
Em conversas interceptadas, o empresário fala do esquema para uma tia (não identificada), que seria funcionária há 15 anos da Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura), responsável por vestibulares como da UFMS e de outros órgãos públicos de MS.
“Agora, se Deus quiser, sai do papel, não, vai pro papel e a gente começa a trabalhar. Tadinho, até o menino do site já deixou o site pronto, [inaudível] mas agora acho que agora vai. Até o contador fez o que tinha que fazer e vamo que vamo (sic). Não é pouco serviço não. Pelo menos dá pra começar o ano mais tranquilo”, contou o sobrinho.
Uma das provas apontadas sobre a falta de capacidade técnica é a criação de um site para forjar o funcionamento da Delta, meses antes da licitação, na avaliação do Gecoc sem “informação de qualquer outro concurso realizado pela empresa: ‘É um site morto’".
Para conseguir transformar uma loja de vinhos de Campo Grande em centro de concursos públicos, em outra conversa interceptada, o empresário fala com o contador: “você conseguiu fazer a minutinha da alteração do contrato social? Pra incluir aquele texto da organização de concurso público e o CNAE? Ai se puder me mandar para eu poder submeter a eles, e aí eles aprovando, ai já vamos meter marcha na junta comercial, porque daí dando certo, já vou assinar contrato pra começar a trabalhar”.
Na conversa ele reclama do tamanho do projeto que terá de executar. “Tem bastante coisa pra fazer, tem que fazer 36 provas, divulgar o site, fazer as inscrições, organizar sala de aula, contratar, vixe é uma função do cacete, sabe? Mas graças a deus está tudo encaminhado pra pegar esse serviço”.
O Campo Grande News tentou contato com os envolvidos ligando diretamente para a Prefeitura de Douradina e também pelas redes sociais, mas não obteve respostas.