Chefe de equipe pediu R$ 1 mil de preso para fazer festa; descoberto, teria dito que diretores não têm moral para questioná-lo
Os escândalos não param no maior presídio de Mato Grosso do Sul. Depois de servidores usando mão de obra de preso para serviços particulares, denúncias de facilitação de fuga de chefões do tráfico, escândalo sexual, entrada de armas automáticas e até comida podre servida a internos e servidores, a Penitenciária Estadual de Dourados agora é palco de denúncia de extorsão.
No dia 16 deste mês, o promotor Juliano Albuquerque instaurou procedimento para investigar ato de corrupção passiva por parte de um dos chefes de equipe. Identificado na denúncia apenas como Silvio, ele teria extorquido R$ 1 mil de um dos presos.
Depois que a história começou a circular entre os servidores e chegou ao conhecimento dos diretores, o agente penitenciário teria ameaçado os superiores, afirmando que eles não têm moral para questioná-lo.
A denúncia anônima foi feita à ouvidoria do Ministério Público no dia 10 deste mês. Em seguida foi enviada à 8ª Promotoria de Justiça da comarca de Dourados e na semana passada o promotor titular instaurou o procedimento “notícia de fato” para começar a investigar o caso.
Segundo a denúncia, no dia 25 de agosto deste ano, por volta de 15h50, o chefe de equipe Silvio “solicitou” R$ 1 mil do preso Gerson José de Souza Junior, alojado na cela 01 da chamada cadeia linear A.
O circuito interno de TV registrou o momento em que Silvio se deslocou para o corredor de acesso da entrada da cadeia linear, e “demonstrando‐se ansioso”, de longe, acenou para Gerson, para que o acompanhasse até a porta de entrada de outra cela.
“Nas imagens é identificada como testemunha ocular um agente penitenciário, que flagrou todo o ocorrido, assim como relatou aos seus pares que presenciou o repasse de dinheiro no mínimo suspeito feito pelo preso Gerson ao chefe de equipe Silvio. Não se sabe o motivo, o agente penitenciário resolveu por bem não comunicar o fato aos diretores da PED”, afirma o autor da denúncia.
Entretanto, ainda segundo a denúncia ao MP, em menos de uma semana as imagens registradas em vídeo foram acessadas por diversas vezes pelos servidores da unidade penal, “o que causou repugnância, uma sensação de que todos os agentes penitenciários que laboram na PED estivessem enxugando gelo, ou mesmo, haveria conivência de alguma autoridade”.
De forma não oficial, os diretores e chefes souberam dos fatos, assim como foram pressionados pelos servidores públicos a tomarem providências em relação ao suposto escândalo tendo como principal envolvido o chefe de equipe Silvio.
Preso ameaçado
“Para agravar ainda mais a situação, o chefe de equipe Silvio entendeu por bem ameaçar/pressionar o preso Gerson para que assinasse uma declaração pré-confeccionada o inocentando. Em ato contínuo, os membros da equipe do plantão também foram ameaçados em serem processados judicialmente pelo próprio Silvio, caso ‘soubesse’ qualquer boato do fato ocorrido”, afirma a denúncia.
Se sentindo coagido e ameaçado por Silvio, o preso acionou seu advogado, que solicitou audiência do seu cliente com a direção da PED. O advogado também requisitou proteção e salvaguarda ao preso.
Após o advogado cobrar providências, a direção montou força-tarefa formada por cinco diretores para ouvir o depoimento do preso na presença de seu defensor.
“Segundo o depoimento colhido do preso Gerson, a motivação da exigência do valor de R$ 1 mil por parte do chefe de equipe era para realizar festa de confraternização, dia 25 de setembro, ‘Dia do Servidor Penitenciário’, que seria realizado para sua equipe de plantonista”, diz a denúncia.
Diligência feita com os servidores à frente da organização da confraternização, no entanto, revelou que Silvio repassou apenas R$ 300 do dinheiro entregue pelo preso. “Os servidores também afirmaram que não tinham conhecimento da procedência do dinheiro. Sabiam apenas que era repasse de doação”.
Interrogado pela equipe nomeada pela direção, Gerson teria dito que a atitude de Silvio em exigir dinheiro de presos era algo rotineiro. Ele teria afirmado ter conhecimento de mensalinhos pagos por presos de outros pavilhões e galerias da PED ao chefe de equipe Silvio.
“Em primeiro momento os diretores deliberam no sentido de registrarem Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia. Depois, em comum acordo, acharam por bem fazer um Termo de Compromisso assinado pela direção da PED e o advogado no sentido de salvaguardar os direitos do preso Gerson de possível retaliação por parte do chefe de equipe Silvio”, afirma a denúncia.
Ainda conforme o autor da denúncia, Silvio já esteve envolvido em várias outras denúncias na PED, como repasse de celular para preso e facilitação de entrada de carne para festa dos internos.
Natural de Aquidauana e morador em Ponta Porã, Gerson José de Souza Junior, 35 anos, está preso desde 2018, condenado a quase dez anos por tráfico de drogas.