Em maio, vereadora chamou Patrícia Brandão de “companheira" ao explicar uso de influência política para a então assessora ser operada na frente de outras pessoas da fila
De “parceira de muitos anos”, “amiga”, “irmã” para suspeita de traição e alvo de ameaças de morte. Essa é o enredo da história envolvendo Patrícia Brandão, 32, e a vereadora de Dourados Maria Imaculada Nogueira (PP).
Em maio deste ano, Maria Imaculada e o colega de Legislativo Diogo Castilho (DEM) usaram o poder político para internar e operar Patrícia na frente de outros pacientes que estavam na fila de espera.
Menos de um mês depois, quando Patrícia ainda se recuperava da cirurgia, a vereadora começou a ameaçá-la, desconfiada que a assessoria poderia lhe trair.
Nesta segunda-feira (2), após seguidas ameaças de morte, Patrícia Brandão pediu demissão da assessoria parlamentar da vereadora e denunciou o caso à Polícia Civil. Chega ao fim a relação de amizade e profissional que existia desde 2016.
Fura-fila
No dia 5 de maio deste ano, Patrícia, então chefe de gabinete de Imaculada, passou mal durante trabalho na Câmara e foi levada para o Hospital da Vida, onde foi submetida a uma cirurgia no apêndice. O procedimento foi ilegal, pois não seguiu os protocolos determinados pelo sistema público de saúde.
Assim como ocorre com os pacientes comuns, Patrícia deveria ter sido levada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e só depois de a central de regulação liberar a vaga ela seria encaminhada de ambulância para o Hospital da Vida.
A irregularidade está sendo investigada pelo Ministério Público após denúncia apontar tráfico de influência e favorecimento por parte dos vereadores. O caso foi mostrado em primeira mão pelo Dourados Informa.
Em discurso durante sessão da Câmara, cinco dias após o ocorrido, Maria Imaculada disse que se tiver de perder o mandato por salvar uma vida terá certeza do dever cumprido. Ela voltou a afirmar que a assessora, a quem chamou de “parceira de muitos anos”, está viva por causa da intervenção de Diogo Castilho.
“Mulher simples e batalhadora e que por pouco não morreu nesta Casa de Leis. Todo protocolo foi cumprido”, afirmou sobre Patrícia Brandão, a quem Imaculada passou a suspeitar de traição um mês depois e começou a ameaçá-la de morte.
Tiro na boca
Ontem, Patrícia Brandão procurou a 1ª Delegacia de Polícia Civil e registrou boletim de ocorrência por ameaça de morte contra Maria Imaculada Nogueira.
Desconfiada que a assessora estaria passando informações sigilosas para seus adversários, Imaculada prometeu dar tiro na boca de Patrícia. Em outro momento, disse que descarregaria uma pistola 9 milímetros na cabeça da assessora.
Nem os dois filhos pequenos de Patrícia, de 10 e 9 anos de idade, escaparam da ira da vereadora. Maria Imaculada teria aterrorizado as crianças falando que elas não deveriam sair de casa porque poderiam ser sequestradas e mortas.
Na denúncia, que vai ser investigada pela 2ª Delegacia de Polícia, Patrícia afirmou que a vereadora ficou “perturbada mentalmente” e “agindo de maneira descontrolada” após começar a fazer denúncias da suposta “farra da publicidade” na Câmara de Vereadores.
“Uma pessoa me perguntou se eu confio em você, esta pessoa me disse que eu te levo em todas as minhas reuniões, que você sabe tudo o que se passa na minha vida. Mas eu respondi para a pessoa que se você me trair eu te mato”, teria sido a primeira ameaça.
Alguns dias depois, em reunião com assessores, Maria Imaculada disse a Patrícia: “se você me trair ou se vender eu dou um tiro na sua boca sua fdp”.
Outras ameaças foram feitas no dia 8 de julho, data em que Maria Imaculada completou 47 anos de idade. Ao discursar, a vereadora afirmou categoricamente: “ontem eu falei para a Patrícia, se ela me trair eu descarrego uma 9 milímetros na boca dela”. A Câmara de Dourados ainda não se manifestou sobre as denúncias.